quinta-feira, 30 de abril de 2009

O jardim



E acabaram-se os lápis de cor. Não todos, mas exatamente as cores verde e marrom. Ainda faltavam pintar duas casinhas e três árvores grandes. As casinhas não eram problema pra Samantha, ela morava numa cidade grande e já havia visto casas de todas as cores de sua caixinha de lápis de cor.


Mas e as árvores? Qualquer cor não adiantaria, afinal, "quem já viu uma árvore roxa? E preta?" Preta já tinha visto, mas só nos desertos, sequinha sequinha, sem vida alguma. E também nos filmes de terror, à noite, sob a luz da lua. Seu desenho não combinava com nada disso...


Tinha cores vibrantes, um céu azul sem nuvens, flores, muitas flores de todas as cores, espalhadas pelo campo verde, campo este que tomava conta da maior parte da pintura. "por isso que o verde acabara".


O desenho era especial, tinha gostado do acabamento, ainda mais porque era um trabalho da escola, sobre qual lugar gostaria de visitar. Samantha tinha certeza que seus coleguinhas iriam desenhar as Torres e Museus apresentados na aula em que a professora tinha-lhes passado o trabalho para casa.


Samantha não se importava, queria mesmo era visitar o quintal de sua bisavô, de preferência na primavera, quando ele ficava colorido de flores, assim como seu desenho. Mas depois que sua tia-avó vendera o lugar para uma filial de vendas de móveis domésticos, fizeram do seu quintal um depósito empoeirado e feio, sem nenhuma daquelas cores. Ah se sua vozinha soubesse, ela voltaria daquele lugar bem longe para onde disseram que ela tinha ido pra reclamar com sua tia.


Samantha parou de pintar por um momento e pensou em como sua voz ficava triste quando Samantha lhe colhia flores. "Mas vozinha, é pra lhe presentear..."dizia. E ela, com sua voz fraca e calma dizia-lhe que, daquela forma, elas viveriam pouco mais de um dia, depois murchariam e morreriam. Se ficassem onde estavam, nos lugares onde Deus as colocou, não morreriam tão rápido... e sua vozinha poderia contemplá-las por mais tempo.


"Sábia vovó!" Samantha saiu para comprar outra caixinha de lápis de cor e terminar seu desenho.

Meu canto, nossa voz


Ergueu a voz timidamente. Não havia motivos para ter vergonha, o som saia suave e agradável.

Uma brisa leve e a sombra da mangueira amenizavam o calor escaldante daquele mês de dezembro. O quintal de sua bisavó era uma imensidão verde, sem flores. "No verão é sempre assim", pensou Samantha.

O canto era algo que a divertia, tranquilizava. Permetia-lhe compartilhar sentimentos com outros, e isso a encantava. Criar e poder mostrar aos outros aquilo que foi criado. Seus pensamentos concretizando-se... música.



Samantha não sabia cantar. Aprendeu como os pássaros.

quarta-feira, 29 de abril de 2009


Samantha tinha os olhos tristes. Observou a cortina da janela com esses mesmos olhos. Estava suja, manchada, como o vermelho em suas mãos. Ela não sabia o que fazer.

Não sentia dor, nem agonia, apenas tristesa por saber que uma cortina tão branca e limpa podia sujar-se com um leve toque de suas mãos pequenas. Ela não sabia o que fazer.

E ainda havia aquele ser em suas mãos. Samantha não queria machucá-la, ela o fez sem a mínima intenção. "Mas também como poderia defender-se?"; pensou ela. "Mais cedo ou mais tarde, ela iria se machucar...".

"O feito está feito". Mas a tristeza em seus olhos revelava que não era exatamente assim que ela pensava, pelo menos não com essa fria firmeza. "Já que não posso voltar atrás vou dar-lhe meu maior sonho".

E assim, Samantha levantou-se do chão branco e frio, afastou um pouco a cortina, sujando-a ainda mais, pôs suas mãos pra fora da janela do décimo sexto andar e fez com cada pétala da rosa vermelha, machucada, que carregava em suas mãos voasse até onde seus olhos poderiam alcançar...

Ironica Flor


Faça-se a luz, mas dessa vez quem ordena sou eu!


Há dias em que queremos aprender, isso nunca é demais.

Em outros, discutir é o melhor a se fazer diante de algumas dúvidas.

E há também os dias em que queremos criar! Criar! Criar!

Bem vindos. Este é o meu lugar.